Filme “Graças a Deus” de François Ozon
Algumas notas sobre o filme
Introdução ao filme publicada pelo 7Margens e da autoria de Alzira Fernandes.
Em modo de tríptico
1. Do cineasta François Ozon
Disciplina de fidelidade aos factos
Recolhendo os testemunhos das vítimas do padre Preynat, traçando o seu percurso, colidindo sistematicamente com a conspiração do silêncio da Igreja, o cineasta procurou a disciplina da fidelidade aos factos. Os advogados do padre Bernard Preynat pediram a interdição do filme, mas o cineasta afirma que o seu filme não inventa nem diz nada que não seja do domínio público. Então porquê ver este filme? Ozon diz que não é somente uma enunciação de factos; trata-se da busca da verdade das vítimas (mudando-lhes os nomes) através dos próprios atores.
Homens que choram
A narrativa é dividida em três grandes capítulos, contendo cada um uma vítima por personagem principal. Ozon imprime um ritmo para melhor sublinhar os sofrimentos, as lutas das vítimas para que se fizesse justiça sobre um passado insuportável. Ele diz: «Queria mostrar homens que choram». Portanto, o ponto de partida seria fazer um filme sobre a fragilidade masculina. Homens que ele quis tocar na sua carne, como fortalezas aparentemente robustas e impermeáveis, homens que traziam dentro de si uma tragédia de infância, um silêncio imposto, uma infância ferida. É bem neste quadro de homens feridos, esta virilidade fragilizada, moderna, que Ozon ausculta com uma acuidade impressionante.
Fazer estalar o verniz
Descobrimos também através da descrição da sociedade burguesa lionesa católica (sem cinismo nem ironia) a ocasião para Ozon fazer estalar o verniz desta classe, de onde ele é proveniente, que tanto aprecia abanar. E também fazer estalar o verniz da própria Igreja.
Deixo aqui o link para o restante texto.